Lembranças....

Quando criança passei férias na fazenda de um tio-avô. Ele criava pacas e cutias em um cercado do quintal como quem cria galinhas. Engordava-as e comia. Outros tempos....
Por influência do meu avô materno, comecei a pescar. Ele pescava e caçava, mas a pesca era a sua paixão. Comecei a pescar em praias e em rios. Quando pegava algum peixe gostava, mas quando voltava de mãos vazias era frustrante.
Meu avô paterno era mais caçador. Fazia viagens para caçar com grupos de amigos. Caça grande. Não tive contato com ele, faleceu quando eu tinha 1 ano.
Tive a fase da espingarda de chumbinho. Vários amigos compraram. Fazíamos tiro ao alvo. Algumas vezes rodávamos de bicicleta carregando as espingardas. Íamos para locais desertos para caçar lagartixas e pardais. Uma vez ficamos atirando uns nos outros, mirando no chão próximo as pernas para ver o chumbinho levantar poeira, como nos filmes de cowboy quando a bala bate no chão. Felizmente ninguém ficou ferido. Muito hormônio e poucos neurônios funcionando.
A sensação era de mais liberdade. Quem cresceu em cidade pequena nos anos 70, comparando com a vida das crianças e adolescentes de hoje em cidade grande, tem essa nítida impressão.
No fim da adolescência um primo começou a fazer caça submarina. Quando vi o equipamento meus olhos brilharam. Comprei o material e comecei a mergulhar com ele. A pesca com anzol já não me atraia mais. Queria algo mais excitante. Você vai atrás do peixe, procura-o em tocas, faz a mira, erra, ele foge. Se entocou, você faz uma emboscada na boca da toca. Atira. Um disco prateado rebolando na ponta do arpão. Coloca o peixe na fieira amarrada no seu cinto, olhando sempre para trás para ver se não tem um cação querendo levar o seu peixe e sua perna junto (só quem viu Tubarão, do Spielberg, no cinema, sabe do que estou falando). Muito mais adrenalina. O peixe está no seu elemento e você depende do seu fôlego e pontaria para ser bem sucedido. Ele percebe a sua presença muito antes que você o veja. We are even!
A caça, afora as brincadeiras com espingarda de chumbinho, nunca me atraiu. Cresci vendo programas sobre a vida animal e não tinha coragem de matar. Ok, matei um punhado de pardais e lagartixas, mas não passou disso.

Vi grandes áreas serem desmatadas, aqui mesmo no Estado do Rio, para virarem condomínios. Locais aonde meu avô paterno chegou a caçar. Isso contribuiu muito mais para a diminuição da fauna do que a caça propriamente.

Hoje houve uma inversão de 180 graus. Proíbem-se tudo. Eu também mudei. Não condeno mais a caça, embora não ache correto matar certos animais, um tamanduá por exemplo. Animais que estão em risco de extinção ou tem a população muito baixa devem ser protegidos.
Em países que permitem a caça não houve risco de extinção nas espécies caçadas. Paga-se pela licença, estabelece-se um limite e uma temporada de caça. Nas duas vezes que estive nos USA vi cervos em liberdade. Uma vez em um parque florestal no estado de NY, e na outra, um atravessou correndo a rodovia na frente do meu carro quando estava indo para Daytona. Aqui no Brasil nunca vi.
Mas por conta da proibição sem critérios e pela ausência de predadores, alguns animais viraram pragas. Capivaras estão causando estragos em plantações e dando prejuízo a agricultores; sem mencionar os javalis. Qual é o sentido de se proibir a caça ao javali no Brasil? Um animal exótico e destruidor de plantações.
ONGS e outros grupos de defesa dos animais são organizados. Fazem pressão e conseguem o que querem: influenciar burocratas. Porém, as ONGS, e principalmente grupos como o MST, foram aparelhadas politicamente. A defesa da natureza e da agricultura familiar são as suas bandeiras e o seu lema, mas a destruição da agropecuária comercial é um dos seus objetivos ocultos. Querem que voltemos a plantar em pequenas áreas, na base da enxada. Se forem bem sucedidos muitos morrerão de fome. Os adolescentes são as suas presas. Muito hormônio, muita disposição e quase nenhum conhecimento de história.

O equilíbrio está no meio termo. Quem gosta de caça gosta de natureza, não quer destruir o que ama. A agricultura comercial pode conviver com a preservação. Quem é contra a caça deve ter bom senso, admitindo que a caça controlada ajuda no equilíbrio da fauna.
E principalmente: demonizar agricultores e fazendeiros é uma estupidez e um tiro no pé.
Carlos_Rio