Kyudo - Caminho do Arco (Atualizado 07/04/14)

Olá, meu nome é Bruno e sou meio novo aqui no Forum (desde Julho inscrito, mas já acompanhava uns meses antes). Pretendo comprar um Composto ano que vem com o Sandro, talvez um PSE Surge ou Momentum.

Quero aqui abrir uma discussão sobre Kyudo, vi dois tópicos, mas não foram discutidos ao fundo. E como eu tive a oportunidade de treinar por quase um ano lá no Japão, quero compartilhar a minha experiência com vocês.

Como eu disse, treinei por quase um ano, no final comprei o meu Arco (Yumi) e trouxe pro Brasil para poder dar continuidade. Ele tem o peso da puxada de 12 kg (há Arcos mais pesados, ouvi falar que existe de mais de 20kg, não sei o quão verdade é isso).

- O Arco tem alguns tamanhos, mas são na maioria acima de dois metros. Tem de vários tipos: Carbono, Fibra de Vidro e Bambu (que são os mais caros).

- A Flecha (Ya) mede desde o meio do tórax até uns 5cm após o dedo do meio (questões de segurança quando se faz a ancoragem).

- Usa-se uma luva (Yugake) na mão direita feita de couro de veado, no dedão é rígido onde tem uma trava para a corda (Tsuru), e você fecha com o dedo indicador e meio para não escapar.

- E tem que usar a roupa adequada, como em qualquer arte marcial no Japão. Já vi vídeo do pessoal treinando com roupa comum em outros países, não vejo problema nisso.

O treino foi o seguinte, durante 3 meses (indo  treinar de duas a três vezes por semana) eu ficava só treinando as posições incialmente sem nada nas mãos e depois com um artefato (Gomu Yumi) que simulava o tiro. Depois comecei a atirar com o Arco em um alvo que fica a 1 metro da porta da flecha, foram uns 700 tiros lá, até eu começar a atirar no alvo a 28 metros. Mas não se assustem, fora do Japão, quem começa a treinar começa a atirar rápido nesse alvo distante, uma atitude para estimular a pessoa a continuar o treino (imagina se as pessoas daqui precisassem passar pelo que eu passei).

O treino\competições são feitos a 28 metros, mas há treinos (não sei competições) que chegam a 60 metros. Pra quem acha que é fácil, está totalmente enganado, porque depende muito da sua postura, acertar no alvo não é fácil. Nos treinos sempre fazemos rodadas de 4 tiros e muda o time, e nesse período que atirava no alvo longe, fiz no máximo 2 vezes 4 tiros no alvo numa rodada. Então depende muito como você está segurando o seu Arco e\ou solta a corda. Depende de tudo do arqueiro.

Ah, e os treinos são geralmente rápidos, duram em média de 2 horas, participando 20 pessoas, atirando +- 24 vezes. Parece pouco, mas para os japoneses das escolas e faculdades que treinam quase todo santo dia, cria uma bagagem bem grande.

Uma coisa muito legal, que o Brasil tinha que imitar, é que, quando rola alguma competição, você vê aos montes arqueiros nas ruas e trens. E ninguém vem encher o seu saco por portar uma arma branca. Pude treinar uma vez em São Paulo com um grupo e ao entrar na estação do Metrô, já fui questionado querendo saber o que eu estava carregando.

Há alguns grupos pelo Brasil, o esporte por aqui está crescendo, temos grupos em São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. Se tiver em mais algum lugar eu esqueci!
Bom, aqui foi só uma apanhado geral e quem tiver algum dúvida ou quiser saber mais só postar ai que na medida do possível e o que eu souber, responderei com o maior prazer!

Atualizado a partir daqui!

Irei postar algumas fotos dos meus equipamentos para que possam conhecer, somente o Arco não consegui fotografar inteiro (peguei uma foto na internet), o resto são todos os meus equipamentos.

Yumi - Arco, geralmente passa de 2 metros de altura
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Detalhes das Flechas:
Ponteiras
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Nocks e penas
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Ya - Flecha, mede metade da envergadura de uma pessoa
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Aljava
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Notando que a Corda se prende somente desta forma, um tipo de nó (o qual nunca vi desamarrar)
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Nigiri - Grip, você pode aumentar ou diminuir a grossura para se adequar a sua mão
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Tsuru - Corda
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Yugake - Luva de couro de veado
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Porta corda
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Mais pra frente se eu tiver mais fotos, postarei pra vocês!

Muito legal a experiência.
Obrigado por compartilhar.

Sds.

Tomaz, parabens pelo seu post. exprime bem o que eles prezam. bastante treino, repetição até a perfeição, rsrsrsrs
Mas em se tratando de Brasil, eu até não me incomodaria se toda vez que sair com o equipamento na mão me questionasse o que tenho na mão. A Merda é o vagabundo do Ladrão me roubar.
Abraço

Ruy escreveu:

Muito legal a experiência.
Obrigado por compartilhar.

Sds.

Obrigado Ruy, ah temos que compartilhar as nossas histórias neste esporte!

marcelocasanova escreveu:

Tomaz, parabens pelo seu post. exprime bem o que eles prezam. bastante treino, repetição até a perfeição, rsrsrsrs
Mas em se tratando de Brasil, eu até não me incomodaria se toda vez que sair com o equipamento na mão me questionasse o que tenho na mão. A Merda é o vagabundo do Ladrão me roubar.
Abraço

Obrigado Marcelo! É bastante treino mesmo, eu me propus a ir no começo de 2 a 3 vezes por semana, quando estava mais avançado era de 3 a 4 vezes. Mas o pessoal ia todos os dias!
E no clube da faculdade que eu estudei, tinha um japonês que era Top 5 do Japão, ver ele atirando era simplesmente foda!

Ah fico um pouco incomodado com essa curiosidade demasiada! O bom é que o lugar que eu treinei em São Paulo (na quadra do Corpo de Bombeiros lá da Sé) fica próximo da estação.

Tomaz, parabéns pelo relato, uma experiência e tanto

como qualquer outro esporte, arco e flecha é treino, treino e....treino

caminhar na rua com o arco até hoje só vi curioso, mas atirar em local público acabei tendo problema, mesmo com segurança teve um indivíduo que chamou a polícia (sem antes vir conversar comigo) dizendo que havia uma pessoa "ATIRANDO" perto da sua casa, imagina a situação, 1 viatua e 4 motos chegaram e eu nem sabia o que estava acontecendo; claro que depois de tudo esclarecido eles nem questionaram nada, mas perdi meu local de teino   , graças a uma pessoa que quer mais aparecer do que outra coisa, fazia 3 anos que treinava nesse local, como ele nunca sai de casa nunca nem sobe, uma única vez que viu deu merda

mas voltando ao tópico, sempre achei interessante o Kyudo, pena que acho que não consigo atirar apenas 24 flechas em 2 horas, esse é o problema do ocidente, queremos ver quantidade, as vezes abrindo mão da qualidade

muito bom seu post.

quando eu estava pensando em começar no arco e flecha eu pensei no kyudo. mas aqui no rio de janeiro capital só tem um lugar e é longe de onde eu moro.

li aquele livro a arte cavalheiresca do arqueiro zen. curti demais!

uma curiosidade, você não mencionou a filosofia do zen do esvaziar o "eu" e a não intenção de acertar o alvo que eu achava ser o carro chefe da arte. a sua escola tratava disso ou era mais ligado a competição?

abração

Mamute-sc escreveu:

Tomaz, parabéns pelo relato, uma experiência e tanto

como qualquer outro esporte, arco e flecha é treino, treino e....treino

caminhar na rua com o arco até hoje só vi curioso, mas atirar em local público acabei tendo problema, mesmo com segurança teve um indivíduo que chamou a polícia (sem antes vir conversar comigo) dizendo que havia uma pessoa "ATIRANDO" perto da sua casa, imagina a situação, 1 viatua e 4 motos chegaram e eu nem sabia o que estava acontecendo; claro que depois de tudo esclarecido eles nem questionaram nada, mas perdi meu local de teino   , graças a uma pessoa que quer mais aparecer do que outra coisa, fazia 3 anos que treinava nesse local, como ele nunca sai de casa nunca nem sobe, uma única vez que viu deu merda

mas voltando ao tópico, sempre achei interessante o Kyudo, pena que acho que não consigo atirar apenas 24 flechas em 2 horas, esse é o problema do ocidente, queremos ver quantidade, as vezes abrindo mão da qualidade

Obrigado Mamute!

O grande problema aqui no Brasil são as pessoas mal informadas. O bom do Kyudo é que ele tem que ser treinado em local específico. No Japão são treinados em Dojo, todo estruturado (procure no google imagens por "dojo kyudo japan"). Já no Brasil, como não temos esta estrutura que é bem específica e por enquanto é inviável, treinamos em quadras fechadas e em Brasilia se treina numa área aberta lá na base do exército. É o que tem pra hoje, mas que funciona muito bem para nós.

Então, como o treino é um pouco específico, era 2 horas para 24 flechas, mas se você fosse em dia que não houvesse treino, poderia atirar quantas flechas quisesse.

w3rm escreveu:

muito bom seu post.

quando eu estava pensando em começar no arco e flecha eu pensei no kyudo. mas aqui no rio de janeiro capital só tem um lugar e é longe de onde eu moro.

li aquele livro a arte cavalheiresca do arqueiro zen. curti demais!

uma curiosidade, você não mencionou a filosofia do zen do esvaziar o "eu" e a não intenção de acertar o alvo que eu achava ser o carro chefe da arte. a sua escola tratava disso ou era mais ligado a competição?

abração

Então w3rm, eu fiquei sabendo que há esse lado filosófico do esvaziamento. Mas isso foi até passado por um dos professores que aparecia por lá. Mas lá é um Clube da Faculdade, e funciona literalmente para participar em competições para levar o nome dessa mesma Faculdade. O Clube é ministrado pelos próprios alunos, os treinos são guiados geralmente pelo pessoal do 3º ano (o do 4º fica mais relaxado). Os professores só aparecem de vez em quando, só um deles que era um senhor de idade que aparecia com mais frequência e gostava de conversar comigo.

Quando voltei para cá e treinei com um dia com o pessoal de São Paulo, vi que havia essa grande diferença, no Japão (pelo menos nas faculdades e colégios) o Kyudo é tratado pelo prática, já aqui é uma mistura da teoria e prática.
Mas isso deve mudar de faculdde pra faculdade e também pra Dojo particulares.

Sobre esse livro ai que você falou, eu ainda não li. Preciso me aprofundar mais sobre essa parte filosófica.

Abraço!

Esse negócio de esvaziar, meditação, filosofias e etc dá pra esquecer bem esquecido dentro de praticamente tudo que seria "tradicional".
Em especial nos japoneses [já que estamos falando de kyudo] dá pra separar tranquilamente. Historicamente eles tem tradição de ter o zen infiltrado em diversos campos, artes e rituais, isso é sabido. Mas de maneira contemporânea isso foi deixado bem de lado. Arte de caligrafia, arranjos de flores, saque de espada, arco, chá e etc recebem um foco muito maior [senão total] nas práticas e rituais e deixa-se de lado o aspecto interno. Essa vontade parte mais dos entusiastas em querer adentrar esse mundo 'zen' em determinada arte do que os praticantes "sérios", e esses entusiastas tb depois de um tempo costumam desistir [pq o professor não correspondeu a essa expectativa, pq o caminho é árduo e longo, etc]
Um bom exemplo disso é o aikido. TODO aluno que vai atrás disso tá lá pq é "uma arte marcial suave, tem círculos e quer entender o 'vazio". E TODO professor fica falando nesse tal de 'vazio' e mente limpa. Detalhe é que talvez nem 2% dos professores de aikido devem ter uma mínima noção do que é esse tal de vazio, só falam pq o professor deles falava e o professor desse professor tb falava, etc...

Mesmo dentro do aspecto unicamente religioso [e aí excluindo qualquer outra arte que tenha esse complemento, como é o caso do kyudo], sem querer ofender ou julgar, se não me engano foi o Shunryu Suzuki [que dá pra dizer que era 'autoridade' dentro do zen] quem falou que atualmente pequenos templos e centros religiosos são mais 'negócios de família' do que qualquer outra coisa... Dá pra tirar daí algumas ideias, afinal é mais fácil ser um grande atirador de arco do que um meditador realizado.

Saulowinter escreveu:

Esse negócio de esvaziar, meditação, filosofias e etc dá pra esquecer bem esquecido dentro de praticamente tudo que seria "tradicional".

Um bom exemplo disso é o aikido. TODO aluno que vai atrás disso tá lá pq é "uma arte marcial suave, tem círculos e quer entender o 'vazio". E TODO professor fica falando nesse tal de 'vazio' e mente limpa. Detalhe é que talvez nem 2% dos professores de aikido devem ter uma mínima noção do que é esse tal de vazio, só falam pq o professor deles falava e o professor desse professor tb falava, etc...

Engraçado que eu já fiz aula de Aikido em algumas escolas por cidades onde passei e ninguém nunca me veio falar sobre o 'vazio'... Acho que essa parte tá ficando realmente esquecida...

Saulowinter,

Acredito que essa separação do Zen com as Artes Marciais, pode ser um curso normal. O interesse dos jovens são outros. Não posso dizer das outras Artes lá no Japão, como é focado (ou não) deste lado.

miojox escreveu:

Engraçado que eu já fiz aula de Aikido em algumas escolas por cidades onde passei e ninguém nunca me veio falar sobre o 'vazio'... Acho que essa parte tá ficando realmente esquecida...

Ah, Miojão, mas duvido muito que tu não tenha cruzado com sequer um nerdzinho de artes marciais sequer nessas andanças todas aHUAHAUHAU Sério, passei mais da metade da vida treinando e pelo menos uma vez por mês aparece um desses que tá lá mais pela filosofia/energia da coisa do que o treino em si [sendo que a filosofia é bem explícita em dizer que treinar e treinar é o caminho] LOL


Eu também acho que esse é o caminho natural, Tomaz. Quem quer fazer kyudo quer primeiramente atirar com arco, quem quer fazer ikebana quer fazer arranjos com flores. Então é natural que numa sociedade que busca resultados cada vez mais rápidos o foco se dê na parte mais óbvia.
Tanto o foco é outro entre esses dois aspectos [kyudo Zen e kyudo 'normal'] que o livro do Eugen Herrigel sequer fala da questão do tiro com arco em si.

Concordo com você Saulowinter em partes, eu mesmo queria ter conhecido um Dojo não vinculado com algum colégio ou faculdade, para ver se eles seguiriam nessa mesma linha de pensamento.
Aonde eu praticava, eles participavam da liga universitária e alguns deles participavam de uns campeonatos do Japão inteiro.

Foi igual um amigo meu, ele praticava Aikido aqui no Brasil, chegou lá e foi procurar saber sobre o clube de Aikido da faculdade, ficou meio puto pois eles eram do estilo que participam de campeonato. É, existe! Nem ele sabia. Era uns treinos pesadões, ele praticou por uns 4 meses mas saiu e foi fazer aquele convencional mesmo num Dojo da cidade.

Pessoal, dei uma atualizada!