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[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]"Oxidação à frio
Este é um método quase artesanal de oxidação, baseado em uma fórmula de origem dinamarquesa, do início do século XX, e que foi bastante empregada em armas militares por diversos fabricantes na Europa, como a Waffenfabrik Steyr (Áustria), a Deutsche Waffen und Munitionsfabrik (DWM) e a Waffenfrabrik Mauser (Alemanha) entre outras. Credita-se ao fabricante Geværfabrikken Otterup Danmark, da Dinamarca, a criação dessa fórmula. Uma restauração e reoxidação de uma arma, originalmente oxidada a frio, deve obrigatoriamente levar-nos a empregar esse método. Segue a lista dos componentes:
Álcool a 90º – 150,0 gramas
Ácido Nítrico – 5,0 gramas
Água destilada – 250 ml
Sulfato de Cobre – 2,5 gramas
Percloreto de ferro líquido – 11,1 gramas
Sublimado Corrosivo – 0,6 gramas
Obs.: O Sublimado Corrosivo, conhecido comercialmente como Orravan, é o cloreto de mercúrio, ou até mesmo o bicloreto de mercúrio. É um produto cristalino de cor branca, solúvel em água, substância extremamente venenosa por ingestão, inalação ou absorção cutânea. Deve ser manipulada com todos os cuidados para não contactar com o corpo.
Preparação da fórmula:
Os produtos devem ser, após a completa dissolução de todos eles em água destilada, deixados descansar por cerca de 24 horas antes de serem utilizados; entretanto, deve ser bem agitado antes do uso por vários minutos. Não há restrições quanto à precedência dos produtos, ou seja, podem ser misturados em qualquer ordem.
Preparação das peças:
As peças devem estar na condição de aço polido, preferencialmente lixado. No caso de armas antigas, não se utilizava polimento das peças com escova de pano com massa polidora e sim, lixamento ou meramente bastava a própria usinagem, com suas marcas características. Se polir a peça em roda de pano com massa abrasiva, o resultado será uma oxidação mais “gloss”, brilhante, que não é uma característica de armas antigas. O lixamento final deve ser dado com gramatura 400 até 600, montadas em base sólida para apoio, para se conseguir acabamento perfeito. Muita atenção e cuidado com as marcas de prova e proceder ao reparo das quinas e dos cantos vivos, se necessário.
Desengordurar:
Esse é um procedimento crítico e primordial. As peças devem ser banhadas em solventes comuns como thinner ou aguarrás por alguns minutos e depois secadas ao ar livre, para evitar qualquer contato com a superfície. Após isso, com uso de luvas sòmente, utilizar Tetracloreto de Carbono, Tolueno ou Hexanol para a limpesa com um pano rigorosamente limpo. O Tetracloreto de Carbono é um produto um pouco difícil de encontrar e cuidados extremos devem ser tomados, pois se trata de um coagulante violento e cancerígino.
O ideal é substituí-lo por Hexanol ou Tolueno, igualmente bem voláteis mas menos perigosos à saúde. Evitar à todo custo inalação e contato com a pele desses produtos, que são desengordurantes excelentes. Após essa limpesa, não tocar mais nas peças de forma alguma. Alternativamente pode-se usar o Álcool Isopropílico, mais fácil de se achar em farmácias. A finalidade de desengordurar com extrema eficiência se deve ao fato de que, ao aplicar a fórmula sobre a peça, apesar de ser bem líquida, recobrir a peça uniformemente e de maneira coesa, sem deixar “bolsas” ou falhas em alguns lugares, o que indicará áreas engorduradas.
Aplicação:
Fazer uma “boneca” com um chumaço de algodão, um pacote recém aberto de preferência. Usando luvas, aplicar a fórmula sobre a peça, como se estivesse envernizando-a com um esmalte, recobrindo-a totalmente e uniformemente. Um cotonete pode ser usado em peças pequenas. Se surgirem falhas onde o líquido não “recobriu”, necessita-se desengordurar melhor. Lave a peça com água e reinicie o processo de desengordurar. Após a total aplicação, deixar a peça em um local seco, longe do contato manual. Depois de 10 a 12 horas, a mesma deverá estar recoberta com uma fina camada de ferrugem de cor avermelhada.
Fervura e escovação
Após esse estágio, aquecer água limpa em ponto de fervura e mergulhar a peça durante uns 10 minutos, retirá-la e deixá-la secar ao ar livre, o que será rápido. Um dos pontos críticos do processo é a escolha da escova de aço que será usada a seguir. Há vários tipos de escovas de aço para serem montadas em furadeiras elétricas ou motores de esmeril, mas a maioria delas é dura demais. Essas escovas NUNCA devem ser utilizadas. Será necessário se encontrar uma escova de aço muito macia, com “pelos” bem finos. A que eu utilizava em meus testes foi adquirida na Rua Florêncio de Abreu, em SP. Uma vez montada, escovar a peça com muita suavidade para retirar a leve camada de ferrugem. Alguns usam a famosa esponja Bom Bril, mas o resultado não é muito perfeito por causa das reentrâncias que podem existir nas peças. A escovação é feita totalmente À SECO ! Após esse procedimento, a tonalidade do aço já apresenta uma leve escurecida.
O processo então se repete. Desengordurar a peça, aplicar nova camada de fórmula, secar 12 horas ou esperar enferrujar, mergulhar em banho de água fervente por uns 10 minutos, secar e escovar. Eu obtive a tonalidade azul-acinzentada similar às das pistolas Luger, por exemplo, em cerca de 6 a 7 vezes de repetição do processo. Percebe-se já, depois da 3ª ou 4ª demão, um endurecimento do material, o que aliás é muito bom, e que melhora a facilidade da remoção da ferrugem após esse estágio. Esse tipo de endurecimento é o que explica a durabilidade desse tipo de acabamento e uma resistência maior a riscos e batidas, o que não ocorre tanto nas oxidações de processo por banho quente.
Problemas:
Os problemas são raros e quase inexistentes, se tudo foi feito conforme o “figurino”. Em um dos casos que empreguei essa técnica, houve uma teimosa mancha de cor diferente na lateral de um ferrolho de uma arma, com tonalidade levemente azul escura-avermelhada, que se manteve presente em todas as etapas. Segundo informações obtidas na época, a arma havia sido niquelada anteriormente. Como um banho à base de cobre geralmente antecede o processo de niquelação, houve um enrustimento de cobre naquela área, que não foi totalmente eliminado na decapagem eletrolítica. Como era uma mancha muito pequena, acabou por ficar daquela forma, caso contrário, a arma teria que passar por um processo de eliminação de cobre. Trata-se de um trabalho longo, paciente, mas é muito gratificante quando se vê a peça atingindo aquela linda tonalidade típica das armas pré II Guerra. Mais ainda quando se vê que preservou-se as características originais nas peças e que, nas superfícies internas da arma, mantém-se a cor natural do aço, característica típica de armas oxidadas com esse método."